quinta-feira, 8 de março de 2012

8 de Março

 Amanhã faço vinte anos. Neste momento estou sentado no sofá, cheguei há pouco do ensaio da banda. Estes dois anos foram os mais curtos e os mais longos que já vivi. Quantas vidas se vivem em dois anos? Olho para trás e a minha vida está virada do avesso. Não que tenha piorado ou melhorado, mas sinto-me outra pessoa. Daqui a vinte e uma horas e dezanove minutos, o algarismo um deixará de marcar o número das dezenas da minha idade. Tornei-me incerto. A pergunta que faço é: para onde vou agora? Pareço um rapazinho perdido no meio do bosque. Dúvidas, tantas dúvidas. Não consigo caminhar como quem pensa que sabe tudo. Perdi uma segurança que agora me é forçada. Eu já nem sei se quero saber a resposta à pergunta que acima referi. Cada dia é um dia. Às vezes olhar o sol que brilha no rio ao som de um cigarro não é assim tão banal quanto isso. As pedras da calçada tornam-se familiares, a casa perde as quatros paredes, torna-se tudo tão vulnerável. Olho as minhas mãos. Estão grandes, penso eu, mas já não me recordo do antigo tamanho delas. Vejo a barba por fazer mas já não me lembro como é não ter que a fazer. Vejo sapatilhas que não mais me servem, o meu quarto antigo cheio de livros que não me lembro de ler. Só vou fazer vinte anos, eu sei, mas sinto-me a perder qualquer coisa. Parece que algo ficou para trás, ficou por viver, mas não sei o que é. Gostava de voltar atrás e descobrir, mas quanto mais penso nisso, mais me sinto a perder o presente que agora me dá tudo à descoberta!
Penso demais, sempre. 

Mãe, há vinte anos atrás aposto que não sabias o que aí vinha.
Surpresa! Agora alimenta-me.
Um grande dia para todas as mulheres, que amanhã é o dia de uma grande mulher.


Não me esquecerei dos meus dezanove anos, e do longo caminho daí aos vinte.


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