domingo, 30 de outubro de 2011

Vento

Não sou poeta,
não sou escritor,
não sou um grande artista
nem grande pensador

o dia pelo dia
noite pela noite
a lua já vai tardia
o vento ao longe dizia
"Se não te encontras,
quem encontrará?"

Eu sei vento,
tens razão..

tudo começa no momento em que o resto acaba
tudo perdes no momento em que o mundo recomeça

voltas e voltas,
dentro do pequenino...
bem que te esforças,
mas na revolta da reviravolta
não há volta a dar

vejam se entendem uma coisa:
tenho tudo o que preciso
tudo o que posso dar

se não há quem mereça,
quem me resta para amar?





quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Completo

Já tocavam as doze badaladas quando os acordes de guitarra se começaram a ouvir. Um misto de pavor e de prazer fizeram-se sentir enquanto as notas flutuavam. Algumas gotas abençoavam a serenata até que uma forte rajada de vento e água fez os estudantes abrir o chapéu de chuva. Fechei os olhos e deixei-me levar. O fado tem destas coisas, é poderoso e ao mesmo tempo agradável e doce, agressivo e ao mesmo tempo humilde. A chuva, os trovões, relampagos,o vento, tudo, fez daquele momento pura magia. 

sábado, 22 de outubro de 2011

"i am not a number!"

Poderia dizer aqui mil e uma coisas sobre viver. Mas não digo. O mundo cai na minha desilusão constante. Às vezes gostava de ter os olhos vendados como algumas pessoa que encontro na rua. "Uma rua é normalmente entendida como um espaço público no qual o direito de ir e vir é plenamente realizado.". A palavra-chave é "plenamente". As pessoas não se conhecem, não se esforçam por conhecer. Encontrões, é assim que elas andam. Vivemos num jogo de bilhar constante em que nós somos a bola. Percorremos muito lentamente o terreno de jogo, às escuras. De vez em quando lá nos deixam ver um pouquinho, antes de cortarem outra vez a luz. 

Sentadinho no meu canto da esplanada, sozinho, observo a humanidade na hora pós refeição. Somos um número. Sou um número. Caímos pela história, caímos pela família. Tick-Tack, mais um dia.Tick-tack mais um ano. Somos um número muito grande. Vivemos meia dúzia de anos. Deixamos a marca, igual a muitas outras. A vida, deixamo-la cá, esse bem tão precioso que agora nos é. Olhar para a frente é olhar para trás, de onde vieste para onde irás. De que serve pensar em ser completo, quando a minha realização é igual a tantos outros números. De que serve sequer pensar? No entanto, sei que essa conquista me vai preencher, mesmo sabendo que não vou sentir algo diferente do que tudo o que alguma vez foi sentido. 

Na ilusão encontramos a desilusão, na desilusão encontramos a realidade.

O mundo é um lugar estranho.

sábado, 15 de outubro de 2011

Tu

Só gostava de saber... Sei que não há maneira, mas toda esta espera só aumenta a impaciência.. E o medo, sabes? Eu sei, sempre fui assim...

Aqui, no sofá, sinto um estranho sabor à pouca realidade que me resta... dá-me uma razão.. dá-me muitas..

Devolve-me a realidade,
Ou tira-ma por completo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Letra A

Eu não sou uma pessoa de noites e, quem me conhece, sabe disso. Às vezes arrependo-me de não o ser, mas quando volto a mim vejo que afinal até vale a pena. Sei que tu és o que quero, o que preciso... Mas estás longe, tão longe... E tão perto, é verdade. Sabes, no fundo revejo-te todas as noites, ou tento. Tento porque não estás em lado nenhum. Num universo de palavras és a única que não se repete. Fazes-me suspirar todas as noites mesmo não o sabendo. Apesar do tempo recordo-me bem do teu rosto. Procurei novos rostos, ainda procuro, mesmo inconscientemente. Aqui onde vivo é bem diferente do mundo onde nos encontrámos. Gostava de voltar a esse mundo, mais verdadeiro, mais sincero, mais puro... Algo que aqui dificilmente encontro. Gostava que dissesses que não atingimos um ponto sem retorno, mesmo que não saibamos bem o que "retornar" significaria. A letra "A" é cada vez mais rara, acredita. Mas sei que faria sentido. Não aqui, não agora, mas no fundo ainda espero por ti. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Partir para ficar

Quero fugir daqui. Quero deixar o meu subconsciente tomar conta do consciente. Ser puro e só. Ser eu e completo. Há dias em que me perco, o chão foge-me dos pés, até a lua se esconde por detrás do céu escuro, sem estrelas. Vou fugir e não mais voltar. Vou fugir e ficar precisamente no mesmo sítio. Vou sair desta prisão, libertar-me das cordas, fugir das paredes que apertam cada vez mais. Vou fugir das nuvens cinzentas. Vou correr e correr, voar e voltar a terra firme. 

Eu vou ser completo. 

Vou ser livre.