quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Atirar um amor para o fundo de um poço não faz bem à saúde

Dou por mim sentado num sofá de uma sala de estar qualquer. não, espera... Este é o sítio onde vivo agora... Ontem estava sentado à mesa que me fez o que sou hoje. Quando dou por mim já fugi de tudo o que quero e corro atrás de tudo o que queria. Não consigo distinguir se são duas coisas iguais ou se a minha visão está tão turva que já nem o chão que piso consigo ver. É como se o fumo do cigarro tivesse ficado preso na garganta, já nem chorar consigo. Mas quem me disse? Quem me fez? Quem levou? Quem? Eu, só eu. Deixo-me levar pela corrente. O rio é demasiado forte para que tenha qualquer controlo que seja sobre o destino. Os arrependimentos são árvores que caíram ao rio e que agora me seguem, correndo o risco de esmagar qualquer tentativa de parar na margem. É assim que sigo. Cego, surdo e mudo. Os erros são tantos que já nao vejo água atras de mim. São só pedaços de madeira esculpida nas rochas do rio que me trouxe até aqui. Cego, surdo e mudo. Quero respirar e parar para pensar mas ele não deixa. Os dias passam e eu fiquei sem forças.Não! Levanta-te e luta! Morro ao tentar... Nunca foi uma luta, pelo menos justa. Não sei se ainda consigo ver o que me fez desistir de tudo aquilo que mais amo para perseguir as águas de um rio que me destrói aos poucos. Os músculos doem... O coração dói. A mente mente. Os dedos não sentem mais a tua pele. Os olhos não veêm aquele verde. A boca está seca e vejo com um olhar húmido os prédios do outro lado da rua, estáticos, vazios, cruéis, inúteis... Agora sento-me no jardim e deixo-me ficar até que o sol me traga um novo dia. O problema é que nem esse consigo ver. O rio ficou mais pequeno e agora multiplica-se mais uma vez. Cego, surdo e mudo tenho que escolher, tal como o fiz quando atirei aquele amor para o fundo de um poço, quando me levantei daquela mesa, quando decidi acreditar em algo e fugi para o encontrar, para me encontrar.

Cego tentei e cego continuo... para quê?