sexta-feira, 30 de março de 2012

Uma cave com demasiado pó por limpar

Quero parar.
Não pensar, não respirar. 
Vou parar o mundo. 
Vou parar o tempo. 
Vou consumir todo o nada, 
todo o vácuo de sangue coagulado entre a espinha e a pele. 

Consumir-me. 

Deixar ver do que é capaz o espelho da cave suja de esqueletos,
outrora mal ditos, agora mudos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Em mim tudo é maior"

E ver as estrelas de perto?
cabem na palma das mãos,
presas em fios de seda
tecidos por pirilampos.

Ser espaço,
mais rápido que a luz.
Ver a terra nascer,
colidir com todo o meu ser.

terça-feira, 20 de março de 2012

Águas de um afogamento lento

Sou um retrato pintado numa noite cobarde
Nasci sem entender bem o porquê nestas águas turvas.

Estar certo, estar errado,
sou o assassino de um caudal carente.
Fugiram as águas para terra firme,
Já nem sei para que lado é a foz.

Afogo-me nesta falta,
no sentimento ladrão de almas
nesta terra seca por um sol constante.

Desenhei-me sem cores,
sem tinta,
sem luz,
sem sequer sonhar.

Desenhei-me num mundo que não me quer,
não aceita a mudança nem os corações puros.
Não me aceita que lhe toque!
Não aceita a diferença nem a igualdade.

Crime, é viver.
Sonhar em ser nuvem e ter um céu só para nós.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Luzes de Inverno

Sinto a janela a fechar-se,
os ultimos raios de sol escapam-se por entre as persianas.

É como ficar a ver o mar até o dia cair.
Já estremecemos com a brisa da noite
mas persistimos mais um pouco,
enquanto a beleza nos agarra com gritos de solidão.

Eventualmente haverá um novo amanhecer,
voltaremos a sentarmo-nos na praia,
chamados por uma nova luz.

Eventualmente a noite vem,
é só mais um dia,
mais uma vida.


quinta-feira, 15 de março de 2012

Bem vindos ao mundo mudo.
Mudámos as cores de um jardim cinzento,
preso ao tempo, preso ao chão,
preso à mudança ténue entre as nuvens e o céu.

A minha sombra mostra o caminho.
As árvores choram a luz derramada pelo sol,
esculpido la no cimo dos prédios.
O sangue é o orvalho do nascer da noite.

Parámos e olhámos.
Vimos os segundos parados de um minuto impaciente,
ciumento.
Respirar fundo, acordar...

domingo, 11 de março de 2012

O teu cabelo embeleza os teus olhos penetrantes.
Tu não olhas,
tu fazes contrair todos os meus músculos e sentir-me pequenino, indefeso.
Olhar para ti é esquecer a própria existência,
encontrar um novo centro de gravidade quando os pés já não tocam o chão.


Sonho, é isso, és um sonho.
Díficil de alcançar, compreender,
mas misterioso de uma forma viciante,
linda.

És linda.

quinta-feira, 8 de março de 2012

8 de Março

 Amanhã faço vinte anos. Neste momento estou sentado no sofá, cheguei há pouco do ensaio da banda. Estes dois anos foram os mais curtos e os mais longos que já vivi. Quantas vidas se vivem em dois anos? Olho para trás e a minha vida está virada do avesso. Não que tenha piorado ou melhorado, mas sinto-me outra pessoa. Daqui a vinte e uma horas e dezanove minutos, o algarismo um deixará de marcar o número das dezenas da minha idade. Tornei-me incerto. A pergunta que faço é: para onde vou agora? Pareço um rapazinho perdido no meio do bosque. Dúvidas, tantas dúvidas. Não consigo caminhar como quem pensa que sabe tudo. Perdi uma segurança que agora me é forçada. Eu já nem sei se quero saber a resposta à pergunta que acima referi. Cada dia é um dia. Às vezes olhar o sol que brilha no rio ao som de um cigarro não é assim tão banal quanto isso. As pedras da calçada tornam-se familiares, a casa perde as quatros paredes, torna-se tudo tão vulnerável. Olho as minhas mãos. Estão grandes, penso eu, mas já não me recordo do antigo tamanho delas. Vejo a barba por fazer mas já não me lembro como é não ter que a fazer. Vejo sapatilhas que não mais me servem, o meu quarto antigo cheio de livros que não me lembro de ler. Só vou fazer vinte anos, eu sei, mas sinto-me a perder qualquer coisa. Parece que algo ficou para trás, ficou por viver, mas não sei o que é. Gostava de voltar atrás e descobrir, mas quanto mais penso nisso, mais me sinto a perder o presente que agora me dá tudo à descoberta!
Penso demais, sempre. 

Mãe, há vinte anos atrás aposto que não sabias o que aí vinha.
Surpresa! Agora alimenta-me.
Um grande dia para todas as mulheres, que amanhã é o dia de uma grande mulher.


Não me esquecerei dos meus dezanove anos, e do longo caminho daí aos vinte.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Passeios

Os bancos dos autocarros são lugares terríveis. Poucos são os sítios onde me senti como nestas viagens diárias. Não pela viagem em si, mas porque o tempo te obriga a pensar, a rever os teus erros e a vivê-los, de certa forma. O que acontece quando chegamos ao destino é que é como sair de uma meditação malévola, como se não estivéssemos preparados para sentir o ar fresco da noite e aquela bofetada de realidade que nos faz voltar a nós.

De repente, dou por mim a caminhar na borda do passeio, a passo lento, pé ante pé. Fecho os olhos e imagino um precipício à minha volta. Não tenho pressa, não tenho medo. Sinto-me a deixar-me cair, ainda de olhos fechados, e a cada passo sinto o fundo mais próximo. Desequilibro-me, abro os olhos. Não há nada, nada à minha volta.

domingo, 4 de março de 2012

Os dedos percorrem o teu corpo nu,
nu de conceitos ou fragilidade precoce.
E de olhos presos nos teus,
invoco o silêncio que nos conjuga.

O mundo? que mundo?
Sou tu, nós,
nada mais.
Só o calor da tua respiração.

As palavras conquistam mas não tanto.
Perdi noção de tudo, do que me trouxe aqui.

Perdido em ti.
Nos teus traços desenhados por uma inocência vaidosa, bela,
suplantando todos os meus paraísos imaginários,
num lugar onde apenas reina o pecado.

quinta-feira, 1 de março de 2012

e as horas passam
descubro que as curvas do tecto são as mesmas
as estrelas continuam a acompanhar a lua e o céu está mais negro do que nunca.

os dias, os meses, os anos.
As estações do ano despareceram e o Inverno foi a que ficou,
sempre atenta ao minimo raio de luz que despolatava por dentre as nuvens, sempre atenta a nós.

Acordar a cuspir sangue,
os pecados desta gente sem ética nem moral,
de gente falsa que me faz perder a fé no ser humano.

Eu sei, eu sei que ainda caminham por aí
mas sao poucos os que sentem como eu sinto,
a dor do mundo em três linhas sem rima.

A dor do mundo sem o amor de uma Primavera que prometera regressar..