Poderia dizer aqui mil e uma coisas sobre viver. Mas não digo. O mundo cai na minha desilusão constante. Às vezes gostava de ter os olhos vendados como algumas pessoa que encontro na rua. "Uma rua é normalmente entendida como um espaço público no qual o direito de ir e vir é plenamente realizado.". A palavra-chave é "plenamente". As pessoas não se conhecem, não se esforçam por conhecer. Encontrões, é assim que elas andam. Vivemos num jogo de bilhar constante em que nós somos a bola. Percorremos muito lentamente o terreno de jogo, às escuras. De vez em quando lá nos deixam ver um pouquinho, antes de cortarem outra vez a luz.
Sentadinho no meu canto da esplanada, sozinho, observo a humanidade na hora pós refeição. Somos um número. Sou um número. Caímos pela história, caímos pela família. Tick-Tack, mais um dia.Tick-tack mais um ano. Somos um número muito grande. Vivemos meia dúzia de anos. Deixamos a marca, igual a muitas outras. A vida, deixamo-la cá, esse bem tão precioso que agora nos é. Olhar para a frente é olhar para trás, de onde vieste para onde irás. De que serve pensar em ser completo, quando a minha realização é igual a tantos outros números. De que serve sequer pensar? No entanto, sei que essa conquista me vai preencher, mesmo sabendo que não vou sentir algo diferente do que tudo o que alguma vez foi sentido.
Na ilusão encontramos a desilusão, na desilusão encontramos a realidade.
O mundo é um lugar estranho.